Antes da Ju se revelar retratista, ela já era – e continua sendo – uma artista plástica incrível! Lembro, ao tê-la visitado pela primeira vez, perder o meu olhar no que considero sua obra-prima. Acima de sua escrivaninha pairava uma prateleira velha de madeira, praticamente quadrada e com algumas subseções internas levemente coloridas. Mas cadê a genialidade? Está na simplicidade e na perfeição. A simplicidade de apelar ao prosaico e a perfeição de tê-la pendurado na parede com um ângulo mágico: 23o desviados do horizonte, o absoluto. Um tempo passou, a vida da Ju ganhou outros tamanhos e ela precisou correr o mundo. Naquele momento, a prateleira veio parar acima da minha escrivaninha. Os livros já não são os mesmos, mas os 23o mantêm a harmonia de suas narrativas.
2. Lembro de ter sido uma de suas primeiras cobaias atrás das lentes. Ela ainda não dominava a técnica, mas, em pouco mais de uma hora, deu-me o que eu mais desejava, uma imagem ao qual, volta-e-meia, ainda retorno. Estávamos criando a foto da orelha de um livro chato, de Matemática para Concursos. Seus leitores certamente o encararam com a mesma alegria de alguém fazendo um curso para madrinha/padrinho em um domingo pela manhã. Mas a Ju conseguiu dar, ao menos àquela orelha, o peso de uma pandorga. Aquele sorriso abobado apontando 23 o para cima, quero crer, afastava do leitor, por ao menos alguns instantes, o fardo da tortura que se avizinhava.
3. Das muitas sessões que já fizemos, a menos colorida é a que merece o meu último comentário. Eu era pele-e-osso, olhos sem ganas de vida, preparado para voltar a Londres devastado pela certeza de um amor perdido. Pedi à Ju que imortalizasse aquele momento. Até hoje olho para essa foto (a foto que escolhi como avatar dessas memórias) e me confronto com a dor e glória de seguir vivendo!
Obrigado, Ju, por seguires ajudando a dar cores às nossas caminhadas!